A União Europeia não pode deixar de contribuir para a solução da crise do sul da europa, sem o qual a sua justificação política deixará de existir. Um crise que começou por ser uma crise de investimento e crescimento, devido à insolvência de bancos internacionais, oriunda da denominada "crise do subprime". Passou, depois, a ser uma crise orçamental dos Estados e do sistema bancário internacional. Hoje, já se revela como uma crise de tudo. Crise orçamental dos Estados, crise de solvência bancária, crise de investimento e crescimento, crise de emprego, do sistema político, do sistema económico, crise das guerras periféricas e crise da ética. O desafio à União Europeia é, portanto, o maior desde a sua criação. A não ser que a crise da bomba de metano dos pólos venha a ser tão grave como dizem certos especialistas (ou outra de igual catastrofismo, existindo várias já aventadas). Essa faria esquecer todas as outras. Por enquanto, a que temos em mãos, desde 2008, já nos parece a maior possível.
Não estou de acordo que a estagnação do projeto europeu se deva a inibições expressas nos desenhos institucionais. Ou melhor, acho que essas inibições se devem à cisão cultural entre norte e sul. Sem debatermos estas questões não poderemos avançar.
Creio que todos os impérios históricos e, sobretudo, as periferias dentro destes, induziram uma cultura cesarista, de descrença no sucesso autónomo dos grupos e de procura, constante, de césares e patronos (cunhas, padrinhos, grupos e lobbies exteriores de apoio, etc.). Esta é, também, uma cultura de descrença nas normas coletivas e de desconfiança nas instituições, pois a autocracia dos césares e quejandos estava bem acima disso tudo. O baixo nível de associativismo e de participação na política, a forma como se desrespeita o código da estrada e a corrupção são exemplos flagrantes.
É com esta chave, da "cultura imperial", que interpreto as conclusões dos diversos estudos interculturais que conheço (Weber, Antero, Unamuno, Almond e Verba, Clifford Gertz, Geert Hofstede, Francis Fukuyama, Putnam, Peyrefite, World Values Survey e, até, certas teorias do desenvolvimento, como as recentes de Acemoglu e Robinson). No sul da europa, depois do império romano tivemos o centralismo católico romano. Nunca mais nos recompusemos! Claro que a periferia geográfica, a dimensão do país, e o clima também jogam as suas induções, sendo que algumas até são culturais (invernos duros parece gerarem culturas de planeamento). O ouro do Brasil, o salazarismo e o, recente, "ouro" europeu só vieram sedimentar o cesarismo.
Em suma, o maior desenvolvimento histórico do sul (desde o século V AC até o século XVII) criou um tipo de cultura pouco propícia às necessidades do capitalismo.
Não estou de acordo que a estagnação do projeto europeu se deva a inibições expressas nos desenhos institucionais. Ou melhor, acho que essas inibições se devem à cisão cultural entre norte e sul. Sem debatermos estas questões não poderemos avançar.
Creio que todos os impérios históricos e, sobretudo, as periferias dentro destes, induziram uma cultura cesarista, de descrença no sucesso autónomo dos grupos e de procura, constante, de césares e patronos (cunhas, padrinhos, grupos e lobbies exteriores de apoio, etc.). Esta é, também, uma cultura de descrença nas normas coletivas e de desconfiança nas instituições, pois a autocracia dos césares e quejandos estava bem acima disso tudo. O baixo nível de associativismo e de participação na política, a forma como se desrespeita o código da estrada e a corrupção são exemplos flagrantes.
É com esta chave, da "cultura imperial", que interpreto as conclusões dos diversos estudos interculturais que conheço (Weber, Antero, Unamuno, Almond e Verba, Clifford Gertz, Geert Hofstede, Francis Fukuyama, Putnam, Peyrefite, World Values Survey e, até, certas teorias do desenvolvimento, como as recentes de Acemoglu e Robinson). No sul da europa, depois do império romano tivemos o centralismo católico romano. Nunca mais nos recompusemos! Claro que a periferia geográfica, a dimensão do país, e o clima também jogam as suas induções, sendo que algumas até são culturais (invernos duros parece gerarem culturas de planeamento). O ouro do Brasil, o salazarismo e o, recente, "ouro" europeu só vieram sedimentar o cesarismo.
Em suma, o maior desenvolvimento histórico do sul (desde o século V AC até o século XVII) criou um tipo de cultura pouco propícia às necessidades do capitalismo.
As culturas neolíticas e comunais dos "bárbaros", das orlas dos impérios de Roma, foram bem mais propícias ao capitalismo, mercantil e depois industrial, assim como à democracia. Temos duas europas, a da cultura cesarista/imperial e a da cultura comunitária. Não me refiro à tese Weberiana de uma cultura de trabalho, frugalidade e poupança que teria sido induzida pelo Protestantismo, no norte da europa. Acho que essa tese foi um erro grave que continua a criar mau entendimento entre o norte o sul da europa. Não é o catolicismo que está no banco dos réus.
Nos autores citados, Almond e Verba parecem-me ser os mais próximos da verdade, com os seus conceitos de cultura cívica (no norte) e cultura paroquial (no sul), embora encontre coerência entre a minha visão e todos os autores referidos, com algumas ressalvas, como no caso de Weber.
Não se trata de uma forma fácil de restabelecer uma novo diálogo entre norte e sul, até porque exige humildade e vontade de mudar por parte do sul. Como é evidente, do ponto de vista do marketing político este é um tema tabu. Que força política vai admitir perante o seu eleitorado que a "culpa" é deste mesmo eleitorado? Apesar das dificuldades, creio ser de grande vantagem para o sul este tipo de abordagem, não só para efeitos de diálogo com o norte mas, sobretudo, para uma efetiva modernização do sul. O norte também terá traços a mudar. A sobranceria com outros povos e a falta de compreensão dos fenómenos inter-culturais serão algum desses traços. A longo prazo, ficções adulatórias sobre o que somos acabam sempre por dar mau resultado. Constatação esta que vale para os dois lados, embora o simplismo de falar em só dois lados não nos deva fazer esquecer a diversidade cultural da europa, onde, nomeadamente, o sul se encontra com o norte, o oriente com o ocidente, o interior com a periferia e onde os impérios andaram um pouco por todos os lados.
Nos autores citados, Almond e Verba parecem-me ser os mais próximos da verdade, com os seus conceitos de cultura cívica (no norte) e cultura paroquial (no sul), embora encontre coerência entre a minha visão e todos os autores referidos, com algumas ressalvas, como no caso de Weber.
Não se trata de uma forma fácil de restabelecer uma novo diálogo entre norte e sul, até porque exige humildade e vontade de mudar por parte do sul. Como é evidente, do ponto de vista do marketing político este é um tema tabu. Que força política vai admitir perante o seu eleitorado que a "culpa" é deste mesmo eleitorado? Apesar das dificuldades, creio ser de grande vantagem para o sul este tipo de abordagem, não só para efeitos de diálogo com o norte mas, sobretudo, para uma efetiva modernização do sul. O norte também terá traços a mudar. A sobranceria com outros povos e a falta de compreensão dos fenómenos inter-culturais serão algum desses traços. A longo prazo, ficções adulatórias sobre o que somos acabam sempre por dar mau resultado. Constatação esta que vale para os dois lados, embora o simplismo de falar em só dois lados não nos deva fazer esquecer a diversidade cultural da europa, onde, nomeadamente, o sul se encontra com o norte, o oriente com o ocidente, o interior com a periferia e onde os impérios andaram um pouco por todos os lados.
autor: José Nuno Lacerda Fonseca