A maior virtude da(s) esquerda(s) é, de facto, o seu pluralismo, como tem afiançado Manuel Alegre nos últimos anos mas, na verdade, também a sua grande fraqueza, resultando na incapacidade de se estabelecerem convergências e consequentemente a autofagia do seu fim comum. A incapacidade de se estabelecerem convergências nacionais tem, não só, raízes históricas nacionais - apesar do maior e, talvez, único e último combate em uníssono contra o regime fascista - como tem, essencialmente, raízes na própria génese e evolução ou construção da(s) esquerda(s). O busílis reside na separação entre o ideal e o real, entre anarco-sindicalistas, socialistas utópicos, socialistas científicos e a social-democracia empírica, claramente maioritária – também, maioritariamente anti-utópica - e que acabou por ceder recentemente, sem estratégia, aos encantos da desregulação - desresponsabilização ? – (neo)liberal, sob a capa da teorização da terceira-via de Giddens.
Não me cabe fazer e nem acredito na diabolização do socialismo científico, do revisionismo bernsteiniano e dos “revisionismos” da própria concepcção social-democrata de Bernstein ou do(s) liberalismo(s), até porque existe um grau de admissibilidade desde que haja clareza na afirmação de um rumo ideológico. O que critico é a alienação ou o abandono do idealismo e humanismo da discussão e da praxis política à esquerda, considerando-se que a direita guia-se, em oposição ao utopismo e ao optimismo antropológico, pelo individualismo, realismo, cepticismo e até hobbesianismo. Assim, a cedência social-democrata ao empirismo e a contínua cedência do marxismo revolucionário à modelação anti-democrata como comprovada por Kautsky é, tout court, uma subserviência às concepções da direita, seja ela na sua versão libertária ou conservadora. A esquerda precisa de repescar princípios da visão reformadora, sinérgica e humanista de Owen, tal como princípios mutualistas proudhonianos e porque não princípios do capitalismo keynesiano? A esquerda necessita, como oxigénio da sua sobrevivência internacionalista, de arrumar com o seu próprio sectarismo e com o anti-humanismo da ortodoxia marxista e da social-democrata e tender, para a “luta cultural”, objectivando a construção pacifista de uma sociedade aclassista, em estabilidade democrática plena. “Exijamos o impossível”!
autor: Cláudio Carvalho
Este post bem podia servir como apresentação deste blog. exijamos de nós o impossível para construirmos tudo o q é possível.
ResponderEliminarobrigado cláudio.
zé nuno lacerda fonseca
Mas será que Bernstein é verdadeiramente compreendido e, diria até, conhecido?
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