Os efeitos da austeridade são bastante maiores dos que são, de imediato, percetíveis pela maioria das pessoas. O seu efeito continuado é erosivo e depressivo sobre o capital humano, confiança, ética e investimento. Como é bem sabido, existe, também, o risco de emergir uma espiral de dívida e recessão. Os cortes podem levar a mais recessão e esta pode levar a mais défice. Ainda estamos para ver se este novo cavaleiro do apocalipse (a espiral recessiva) fará a sua aparição. Sendo esta espiral pior que a austeridade o que pode seguir ainda poderá ser pior.
Como, também, se sabe a crise da dívida (soberana, bancária, empresarial e das famílias) tem sido combatida com austeridade, baixa da taxa de juros de referência e aumento da massa monetária. Ora, estes últimos instrumentos podem redundar em híper inflação. Países como os Estados Unidos e o Japão têm procedido a aumentos, significativos, da massa monetária, pela emissão maciça de moeda, através do instrumento financeiro que se convencionou chamar “quantitative easing”. Estima-se que, desde 2008, os Estados Unidos emitiram 5 triliões de dólares. Recentemente, o Japão terá duplicado a sua massa monetária, na tentativa de retomar o crescimento. O BCE acabou de anunciar que seguirá o modelo do “quantitative easing”, embora, nas costas dos europeus, já o tenha vindo a fazer. Quando se aumenta, desta maneira, a quantidade de dinheiro em circulação, o efeito habitual é enorme inflação. Um dos problemas da hiperinflação é que as nossas poupanças podem passar a valer um décimo do seu valor atual no espaço de meses e quase nada depois de alguns anos. Os seus efeitos destrutivos são de diversos tipos e são maciços.
Como, também, se sabe a crise da dívida (soberana, bancária, empresarial e das famílias) tem sido combatida com austeridade, baixa da taxa de juros de referência e aumento da massa monetária. Ora, estes últimos instrumentos podem redundar em híper inflação. Países como os Estados Unidos e o Japão têm procedido a aumentos, significativos, da massa monetária, pela emissão maciça de moeda, através do instrumento financeiro que se convencionou chamar “quantitative easing”. Estima-se que, desde 2008, os Estados Unidos emitiram 5 triliões de dólares. Recentemente, o Japão terá duplicado a sua massa monetária, na tentativa de retomar o crescimento. O BCE acabou de anunciar que seguirá o modelo do “quantitative easing”, embora, nas costas dos europeus, já o tenha vindo a fazer. Quando se aumenta, desta maneira, a quantidade de dinheiro em circulação, o efeito habitual é enorme inflação. Um dos problemas da hiperinflação é que as nossas poupanças podem passar a valer um décimo do seu valor atual no espaço de meses e quase nada depois de alguns anos. Os seus efeitos destrutivos são de diversos tipos e são maciços.
A inflação não se tem sentido porque o receio das populações inibe-as de gastar e investir. Como a velocidade de circulação do dinheiro é baixa não se nota a inflação. Infelizmente, a enorme massa monetária ficou no mercado e pode despoletar hiperinflação, caso a velocidade de circulação aumente. As políticas tentam manter um equilíbrio entre as diversas variáveis envolvidas mas é óbvio que andamos a brincar com o fogo. Fala-se muito das compras de ouro da China e do seu plano para atacar o dólar (enfraquecido pelo excesso de dólares em circulação) e conseguir substitui-lo pela sua moeda, o que envolveria uma considerável destruição da economia americana e de todas as que com ela mantêm laços. Recentemente, China e Rússia acordaram em deixar de usar o dólar nas transações entre si. O fim do dólar está à vista mas os USA não estão a dormir e preparam a américa como uma fortaleza para viver independentemente. Sobretudo através das novas tecnologias extrativas (gás de xisto – “shale gas”), os USA preparam-se para ser o maior produtor mundial de energia, mais que qualquer país árabe. Diga-se, de passagem, que se pensa existirem reservas de gás de xisto em Portugal, nomeadamente na região Oeste. Como há muito anunciou Samuel Huntington, a fraqueza das ideologias e a luta pelos recursos naturais levará ao choque entre civilizações, sendo de esperar a eclosão de guerras. Infelizmente, o mundo continua nuclearizado e os equilíbrios são cada vez mais difíceis de gerir pois nações desesperadas, também, possuem, hoje, armas nucleares, ao contrário do que aconteceu na guerra fria. Mesmo na guerra fria, a crise dos mísseis de cuba esteve quase a lançar a humanidade no holocausto nuclear. Agora seria mais difícil atingir equilíbrios pacíficos.
A lista do exército do apocalipse já vai longa (austeridade, desemprego e escravatura, espiral recessiva, híper inflação, conflito nuclear) mas ainda não acabou. Os últimos dados científicos (Natalia Shakohva e Igor Similetov) mostram que a espessura do gelo no ártico está a diminuir exponencialmente, numa realidade bem mais rápida do que os piores cenários que se previam ainda há dois ou três anos atrás. Se Guy McPherson tiver razão, isto levará à libertação do metano existente no fundo dos oceanos e um aumento, também exponencial, do efeito de estufa provocado pelo metano e milhares de vezes mais forte do provocado pelo dióxido carbónico. Aliás, não há provas de que o CO2 provoque efeito de estufa, sendo que o aumento da temperatura verificado até agora pode ser devido aos ciclos solares. O metano é de tal magnitude superior que o CO2 seria o menor dos nossos males. Segundo McPherson, o efeito de estufa poderá se de tal ordem que, dentro de uma quinzena de anos, não será possível produzir alimentos.
Juntemos a isto, a seleção de bactérias e vírus multirresistentes, a dificuldade de controlar socialmente as novas armas e máquinas de inteligência artificial, as tensões sociais e políticas, regressivas e contra a civilização, o abandono da ética que se verifica a olho nu, um sistema económico, globalizado, que acentua as desigualdades entre classes e que não consegue evitar um desemprego crescente, desperdiçando recursos e criando pobreza e, talvez, seja altura de ficarmos ligeiramente preocupados com o destino da humanidade nos próximos anos, para já não falar de muitos outros fatores de erosão, como a criminalidade e a poluição sistémica e alimentar.
Juntemos a isto, a seleção de bactérias e vírus multirresistentes, a dificuldade de controlar socialmente as novas armas e máquinas de inteligência artificial, as tensões sociais e políticas, regressivas e contra a civilização, o abandono da ética que se verifica a olho nu, um sistema económico, globalizado, que acentua as desigualdades entre classes e que não consegue evitar um desemprego crescente, desperdiçando recursos e criando pobreza e, talvez, seja altura de ficarmos ligeiramente preocupados com o destino da humanidade nos próximos anos, para já não falar de muitos outros fatores de erosão, como a criminalidade e a poluição sistémica e alimentar.
Todavia, os sistemas são complexos e os homens inteligentes e todos estes fantasmas poderão desvanecer-se, mesmo se nada fizermos de novo. À cautela, não seria má ideia fazermos tudo de novo. Creio que o mais importante será tomarmos consciência que a ética é a base da sociedade e não podemos continuar a degradá-la. Continuarmos, cada vez mais, uns contra os outros, numa competição excessiva e cruel, será a melhor maneira de deixarmos entrar os fantasmas e deitarmos tudo a perder. Com ética e humanismo poderíamos estar a viver no paraíso, tantas são as capacidades produtivas que a tecnologia nos está a possibilitar. Pergunto pois a cada um de vós – o que vais mudar ou está, afinal, tudo OK?
Qual a profundidade da mudança necessária? Democracia deliberativa e outras novas formas, em vez de democracia representativa? Economias mistas, privadas e públicas, com estas últimas sendo constituídas por empresas de capitais públicos e de gestão privada? Regulação ética dos mídia e outras formas de promoção ativa da ética? Redistribuição de rendimentos tendo em vista alcançar as mínimas desigualdades compatíveis com o incentivo? Economias de transparência, com participação de entidades públicas no “benchmarking” e na compra e libertação de patentes? Construção de novas éticas com expressão de novos valores, como a transparência, o equilíbrio de poderes, a adequação de cada projeto existencial às caraterísticas de cada um (realização pessoal) e a limitação da sede de poder e de consumo? Novos entendimentos espirituais que relativizem os egos, face à luta contra o mal a favor do grande e eterno projeto do bem, imanente nas leis físicas da natureza, enquanto nome de Deus? Tudo isto e muito mais ou algo ainda mais profundo?
À profundidade de Aristóteles que via os excessos e o desamor pelo conhecimento como a fonte de todos os males? À profundidade de Freud que entendia a frustração sexual enquanto origem de toda a violência? À profundidade de Nietzsche que entendia a cobardia como fonte primária do sofrimento?
Em suma, à profundidade de uma filosofia que consiga detetar os pressupostos errados de nossos raciocínios e comportamentos e imaginar pressupostos alternativos? Será que só se todos (ou quase todos) se transformarem em filósofos é que a humanidade poderá atingir um novo patamar? Afinal, a filosofia é, essencialmente, esta capacidade de auto-análise, detetando pressupostos que o tempo tornou errados mas que continuam, atavicamente, a orientar as nossas ações que, por isso, ficam desajustadas da realidade que fomos criando. Camada após camada, as nossas experiências vão acumulando informações que estruturam a nossa mente e psiquismo e que orientam as nossas ações futuras. Acontece que certas experiências acabam por ficar desatualizadas, isto é, as coisas tornam-se diferentes com o tempo e precisam de diferentes soluções. Contudo, nem sempre a mente se apercebe disso, encerrando-nos num passado que já não existe. Por, exemplo, num mundo de fome frequente, a gordura era formosura e o poder e o estatuto social eram algo essencial para garantir o acesso ao alimento no momento da sua escassez. O mundo tem hoje capacidades produtivas enormes mas a fome e a sede de poder está ainda marcando a profundidade do nosso ser e da nossa cultura. Aliás, esse sede de poder torna-nos, inutilmente, tão agressivos, uns com os outros que acabamos por desorganizar a sociedade e provocar, outra vez, a escassez. É o estranho paradoxo do atavismo do poder social.
Parece que a humanidade não foi prendada com os genes da necessária capacidade filosófica auto-analítica. Os preconceitos, os atavismos, a repetição do que funcionou noutros tempos mas que agora está fora do tempo, continuam a impelir-nos, num frenesim de emoções intensas que nos impedem de parar para pensar. Assim sempre foi mas, talvez, hoje já será o tempo de avançar para uma nova mentalidade, mais filosófica e reflexiva. Não nos podemos esquecer que a capacidade tecnológica, também, nos deu grande capacidade destrutiva. O paradoxo do atavismo poderá ser-nos fatal.
À profundidade de Aristóteles que via os excessos e o desamor pelo conhecimento como a fonte de todos os males? À profundidade de Freud que entendia a frustração sexual enquanto origem de toda a violência? À profundidade de Nietzsche que entendia a cobardia como fonte primária do sofrimento?
Em suma, à profundidade de uma filosofia que consiga detetar os pressupostos errados de nossos raciocínios e comportamentos e imaginar pressupostos alternativos? Será que só se todos (ou quase todos) se transformarem em filósofos é que a humanidade poderá atingir um novo patamar? Afinal, a filosofia é, essencialmente, esta capacidade de auto-análise, detetando pressupostos que o tempo tornou errados mas que continuam, atavicamente, a orientar as nossas ações que, por isso, ficam desajustadas da realidade que fomos criando. Camada após camada, as nossas experiências vão acumulando informações que estruturam a nossa mente e psiquismo e que orientam as nossas ações futuras. Acontece que certas experiências acabam por ficar desatualizadas, isto é, as coisas tornam-se diferentes com o tempo e precisam de diferentes soluções. Contudo, nem sempre a mente se apercebe disso, encerrando-nos num passado que já não existe. Por, exemplo, num mundo de fome frequente, a gordura era formosura e o poder e o estatuto social eram algo essencial para garantir o acesso ao alimento no momento da sua escassez. O mundo tem hoje capacidades produtivas enormes mas a fome e a sede de poder está ainda marcando a profundidade do nosso ser e da nossa cultura. Aliás, esse sede de poder torna-nos, inutilmente, tão agressivos, uns com os outros que acabamos por desorganizar a sociedade e provocar, outra vez, a escassez. É o estranho paradoxo do atavismo do poder social.
Parece que a humanidade não foi prendada com os genes da necessária capacidade filosófica auto-analítica. Os preconceitos, os atavismos, a repetição do que funcionou noutros tempos mas que agora está fora do tempo, continuam a impelir-nos, num frenesim de emoções intensas que nos impedem de parar para pensar. Assim sempre foi mas, talvez, hoje já será o tempo de avançar para uma nova mentalidade, mais filosófica e reflexiva. Não nos podemos esquecer que a capacidade tecnológica, também, nos deu grande capacidade destrutiva. O paradoxo do atavismo poderá ser-nos fatal.
autor: José Nuno Lacerda Fonseca