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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um Modelo Quase Perfeito

É,  na minha opinião, o modelo Socialista que, de longe, melhor se enquadra em qualquer país verdadeiramente democrático - em toda a dimensão do termo. Só um Estado forte, e com tamanho adequado, tem verdadeira capacidade para corrigir e minimizar as desigualdades sociais, através de um Estado Social que garanta, por si só, os direitos básicos de todo e qualquer cidadão, a nível da educação, da saúde e acção social, sem descurar de forma continuada o saneamento das contas públicas.
A coesão social, o bem-estar económico e a liberdade política são dos factores mais valiosos das sociedades contemporâneas, e mesmo no século XXI podemos verificar que a prosperidade por si só não chega para garantir o resto desejável.
É de reforçar que o papel dos Estados deve ser o de servir os povos, e sendo o Socialismo Democrático (ou em outras geografias a Social-Democracia) a linha ideológica que melhor se enquadra de forma responsável no avanço evolucional das civilizações, é necessário que o próprio Socialismo Democrático seja alvo de uma adaptação profunda à sociedade portuguesa de maneira a afirmar-se como uma ideologia aplicável,  progressista e de futuro.
Em primeiro lugar, essa adaptação deve ocorrer porque, apesar das diversas políticas sociais já aplicadas, a componente democrática está longe de atingir os seus próprios propósitos quando o social nela não se envolve. Em segundo lugar,  tal mudança é imperativa pela contínua existência da corrupção que evidencia as desigualdades existentes pois os privilégios injustificados são “uma negação da cidadania dos outros”. De facto esta última citação de Ralf Dahrendorf é reveladora do tipo discurso usual entre muitos cidadãos que, muito devido à conotação negativa que atribuem à classe política, têm a tendência de, com razão ou não, considerarem a corrupção como um hábito social, frequente e aceitável, e por considerarem que existem demasiadas barreiras não exercerem a sua cidadania, quer seja participando nos partidos políticos ou nos diferentes actos eleitorais.
Em virtude da necessidade de tal adaptação, deve este mesmo Estado Social empenhar-se seriamente no combate à corrupção, pois, em parte, a corrupção fomenta uma certa tendência  "anti-socialista", relacionada com desigualdade de direitos e oportunidades.
Mais ainda, é necessário que, com a perspectiva do Socialismo Democrático, se integrem as pessoas na democracia enquanto verdadeiros cidadãos, recorrendo à educação pública pela capacidade de mudanças culturais que permite. A estratégia tem de ser vasta, eliminando  o estigma da participação cívica e política em sociedade. São necessárias reformas importantes dentro dos partidos políticos, mas também do próprio modelo democrático, que procurem aproximar a sociedade às responsabilidades cívicas e aproximar os cidadãos à proactividade comunitária com o senso de objectivo comum.
Esta pequena reflexão que visa ligar o Socialismo aos factores chave da sociedade, encontra mais um pouco de inspiração numa frase de John Kennedy: "A liberdade política é a condição prévia do desenvolvimento económico e da mudança social."
 
Em Portugal, a liberdade política é uma realidade há já mais de três dezenas de anos, no entanto, o desenvolvimento económico do nosso país não consegue ter a produtividade e a qualidade que uma nação com oito séculos de uma história gloriosa poderia augurar. No sentido de salvar o famoso presidente americano da fogueira, torna-se necessário realçar a falta de uso que os portugueses dão à sua democracia. Fazendo paralelismos, já Nelson Mandela dizia que tal revela "uma concha meia vazia devido a uma democracia esfomeada".
O Socialismo moderno e Democrático tem todas as potencialidades para criar o modelo mais adequado à governação do nosso país pela via da coesão social, bem estar económico e liberdade política, no entanto, enquanto não nos apercebermos que há factores sociais que ainda exigem uma resposta através de uma adaptação modelar, vamos continuar a assistir a uma cultura de passividade social que com o passar dos anos se torna mais cultural!  

autor: André Lopes

6 comentários:

  1. está muito bom o texto:)

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  2. É um texto que vem reforçar o que defendo e começa a ser a minha bandeira de batalha. Também considero urgente uma aproximação dos cidadãos ao acto de dirigir o país e o actual modelo de democracia representativa não satisfaz essa necessidade.
    Solução:
    Um partido politico que emerja das massas com um único, ou principal propósito. Devolver aos cidadãos o direito de decidirem o seu futuro, e acabar com a corrupção diluindo a sua causa, que é a concentração de poder.
    O estado actual de governação a meu ver é apenas um estágio, assim como foi a monarquia, assim como é este sistema de democracia representativa. O futura passa por uma democracia mais directa, mais consultora do cidadão.

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  3. Olá André,
    Não poderia concordar mais contigo quando dizes que o " Socialismo moderno e Democrático tem todas as potencialidades..." como modelo orientador da governação do nosso país.
    Só que não basta valorizar as qualidade morais e conceptuais deste modelo. É necessário demonstrar que este tem dado a melhor resposta às necessidades dos cidadãos: emprego, sustentabilidade das pensões e saúde, educação... E aí, no caso de Portugal, falhou, por muitos erros cometidos em nome do modelo "socialismo democrático" mas que nada de socialista tinham (exemplo overdose de PPPs). É necessário que o Socialismo Democrática faça uma balanço, estudo, reflexão e discussão profundas sobre os novos caminhos para o Socialismo, e que construa uma nova arquitectura de políticas economicas e sociais que respondam aos enorme desafio que o nosso país tem de ultrapassar neste década.

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  4. Boas,

    Em suma acho que está uma boa analise do que é ou pelo menos deveria ser um modelo socialista democratico moderno e no nosso caso um partido socialista europeu. No entanto na minha opinião, e apesar de um ser um centro-esquerdista, acho que não existem ideologias perfeitas, porque todas as ideologias tem coisas boas e más, e se olharem atentamente para todas elas, até o PNR tem para lá algumas coisas que fazem sentido.

    Abraço,
    Flávio Maia

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  5. FÁBIO FARIA22 junho, 2011

    Não existem sociedades perfeitas. Aquelas que se intitularem como perfeitas são sociedades tiranas. Digo isto, para reforçar a visão do Flávio. Todavia, sei que não é isso que pretendes com o texto, a visão de uma sociedade totalitária ou igualitarista. E ainda bem, a história deu-nos muitas lições sobre modelos que perfilharam a tirania tendo como objectivo a perfeição.
    "O Socialismo moderno e Democrático têm todas as potencialidades para criar o modelo mais adequado à governação do nosso país". Concordo totalmente contigo e acho que esta frase é a ideia chave do texto, ou seja, o modelo do centro-esquerda, que é também ele abrangente, tem todas as condições para se afirmar nas sociedades modernas. Temos exemplos disso. Todavia, actualmente, existe um esvaziamento ideológico no centro-esquerda dos vários países europeus, incluindo em Portugal. Isso deve-se a vários factores, mas para mim o mais importante é o actual contexto governativo. Nos dias de hoje, não existem agendas de esquerda ou de direita na governação, o que existe é uma obsessão com o controlo orçamental e com a redução das dívidas externas que sofreram um ataque sem precedentes, é isso que tem dominado a agenda governativa, um governar à vista dos níveis de rating e das flutuações dos juros da dívida. Desta maneira, existe um facto que importa ser ressalvado. Actualmente, na União Europeia, todos os governos são de direita (excepto Grécia e Espanha). Todavia, eu não quero que os partidos do centro-esquerda voltem a ganhar eleições só pela via do descontentamento e, para no fundo, chegar ao poder e aplicar a mesma receita, isto é, austeridade, não é isso que pretendo para o centro-esquerda e é isso que todos os socialistas europeus devem evitar. O centro-esquerda deve afirmar-se como alternativa à austeridade e, em Portugal temos com António José Seguro uma excelente oportunidade para refundar o nosso conteúdo programático e para ajudar os socialistas europeus a afirmarem na Europa uma política diferente, virada para as pessoas e para o emprego, e menos para o défice e para a dívida.
    Dizer isto porquê? Porque só desta maneira, o Socialismo moderno e Democrático consegue criar o modelo mais adequado à governação do nosso país, baseando-se nos princípios da redistribuição da riqueza, da igualdade e da criação de emprego.

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  6. Absolutamente de acordo que o grande desafio do socialismo é a participação cívica dos cidadãos. De facto, não me pareça que se deva ter grandes expetativas em reformas de sistema político que não tenham este foco. Por isso sou moderado em esperanças sobre os efeitos de círculos uninominais e eleições diretas nos partidos. Parecem-me boas medidas mas não são as que exigem mais participação cívica. Orçamento participativo, democracia nas escolas (com as novas atribuições do Conselho Escolar no recrutamento dos Diretores da escolas) e agenda local 21 parecem-me medidas que implicam um aumento participativo mais nítido. A proposta de democracia socialista, com q se iniciou este blog, parece-me constituir a mais importante reforma, permitindo ultrapassar o regime da democracia parlamentar que me parece desatualizado. Embora esta seja a reforma charneira, precisaremos de criar um novo sistema económico (inspirando no socialismo de mercado e nas economias de transparência), um novo sistema cultural (no qual a regulação dos mídia, tema com alguns artigos neste blog, é fulcral) e novos sistemas de relação social e enriquecimento relacional das depauperadas famílias modernas.
    José N. Lacerda Fonseca

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