quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Quem deve, teme!!!

Até 2009 pouco se falava de dívida soberana. Existia como sempre existiu, mas era um daqueles dados macroeconómicos que só interessava a especialistas, e provavelmente o comum dos mortais nem sabia o que quer dizer. Os cidadãos tinham as suas dívidas pessoais com que se preocupar - o que já não era pouco, uma vez que aumentavam constantemente. Mas enquanto os bancos as suportassem e até apoiassem, ia-se vivendo. Agora, o drama da dívida soberana. A nossa e a dos outros, uma vez que com a globalização está tudo interligado. A incapacidade de pagar a nossa. E a incapacidade da Europa nos ajudar a pagá-la. A discussão se se deve ou não fazê-lo – afinal de contas fomos nós que a criámos.


Outro facto que não é novo mas que também só agora nos caiu a ficha é que a dívida dos outros afecta a nossa. Se a Grécia falir, as nossas hipóteses de falir aumentam exponencialmente. E então, se a coisa chega à Espanha...
Então e os Estados Unidos? Esta semana foi a dívida americana que esteve na berlinda. Sim, porque eles também devem. E como! Neste momento estão a dever ao mundo – isto é, à China – nada mais nada menos do que 1,2 triliões de dólares. Depois de uma disputa entre o Presidente e a oposição que faz lembrar as nossas disputas politicas – isto é, em que os interesses partidários estiveram acima do interesse nacional - o tecto da dívida soberana americana foi fixado em 2,4 triliões. Mas espera aí; o que são 2,4 triliões? Um trilião é um valor com 12 zeros: qualquer coisa como isto - 1.000.000.000.000! O que é que a dívida americana nos pode interessar? É muito simples: se os americanos não puderem pagar a sua dívida, ou pelo menos amortiza-la regularmente, toda a economia mundial sofre, até chegar a nós aqui neste cantinho á beira-mar plantado.
O que podemos fazer? Nada. Somos todos responsáveis, cada um na sua infinita insignificância. Basicamente, responsáveis por consumir de mais. Quem é que resiste a um iPhone? O iPhone é feito na China, porque só com os salários de miséria pagos na China é que é possível um iPhone chegar ao consumidor final (português ou americano) por 500 euros. Quem diz um iPhone diz um berloque de plástico ou um guindaste industrial. Com poucas excepções, tudo o que adquirimos de duráveis e muitos dos consumíveis é fabricado na China. Como não temos dinheiro para pagar, a China tem financiado o nosso consumo: empresta-nos o dinheiro para comprarmos os produtos deles ao preço da uva mijona. A nossa única safa é que têm de continuar a dar-nos crédito para nós podermos continuar a comprar – senão a economia deles desaba. São preocupações de mais para uma pessoa singular, cujo universo monetário não passa os três, quatro zeros.
Já não bastava sentirmos o peso da hipoteca da casa e da dívida das férias do ano passado; não chegava termos de sofrer com a dívida nacional, que tem entre seis e nove zeros; não, não era suficiente. Agora temos de ficar acordados por causa de uma dívida com 12 zeros!

autor: António José Menezes

Nota: texto datado de Agosto de 2011, a propósito dás dívidas soberadas, e da novidade da dívida dos EUA

2 comentários:

  1. O valor de produçäo do iPhone é capaz de ser... 50€, se tanto. Vá lá. bem esticado, 100€.

    Ele chega a 500€ ao consumidor porque faz parte do posicionamento de marketing dos produto.

    A deslocalizaçäo para a China näo fez o preço dos produtos descer tanto (talvez 50%) como fez aumentar os lucros das empresas (talvez 500%). Porque no fim de contas a Apple vende por 500€, mesmo que lhe custe 1€ porque sabe que há gente parva que paga aquele dinheiro todo por um produto até inferior à concorrência. Ah, mas é todo design e tal... e é isso que as pessoas querem comprar. Para depois dizerem que quem compra o equivalente em prestaçöes da Samsung por 250€ säo "pobres e invejosas".

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  2. a divida dos EUA está em 15 trilhões.
    Desses 15, 2 são só para a China

    aqui está o contador da divida
    http://www.usdebtclock.org/index.html

    se eles resolverem simplesmente não pagar será o maior desastre economico jamais visto.
    inflação da moeda americana, impossibilidade de impressão de novas moedas, perda de confiabilidade na moeda, surgimento de uma nova moeda para transações internacionais.. entre outras muitas coisas.

    Obs: Muito bom o blog! é muito dificil encontrar similares.

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